Compromisso e autoestima

Os seguintes vídeos de animação são muito originais e divertidos, e os dois contam uma breve história de amor. Mas têm também outra característica em comum. Nos dois se evidencia o compromisso incondicional que é uma marca central de amor verdadeiro. Em ambas as histórias vemos os protagonistas atuarem sem dúvidas nem vacilos para defender o seu companheiro de qualquer perigo. Como deve ser!

“Oktapodi”, de Gobelins, ganhador do Oscar ao melhor curta-metragem de animação.
Curta-metragem “Meet Buck” (Conhecer o Buck).

Estas duas “fábulas modernas” são efetivas precisamente porque os protagonistas se mostram naturalmente dispostos a cuidar amorosamente do outro, em qualquer circunstância e até as últimas consequências. Nessa característica de ser incondicional o que diferencia ao autêntico amor de outras emoções menos profundas com as que às vezes o confundimos. E, claro, esse compromisso e essa fidelidade são essenciais para que as duas histórias tenham sentido e mereçam ser contadas.

Do mesmo modo, sem esse amor incondicional por nós mesmos nossa própria história se torna uma história triste, ou pelo menos irrelevante. Só nos querendo e nos aceitando sem condições estamos preparados para desfrutar plenamente da experiência de viver e para converter nossa história em algo realmente interessante.

Amar-se é o começo de uma aventura que dura toda a vida. (Oscar Wilde)

A realidade exterior na qual vivemos é uma projeção do nosso mundo interno. A relação que temos com nós mesmos se reflete em todas as interações que temos com os demais, em cada situação ou experiência que nos cabe viver.

Todos gostamos de sermos bem tratados, que se respeitem nossas necessidades e, no caso de nossa família, que nos queiram incondicionalmente. E ainda que não o pensemos com muita clareza, costumamos a acreditar que se tratamos assim aos demais, merecemos receber “em troca” o mesmo tratamento… como se se tratasse de um acordo universalmente aceito. Mas nos dói ver que com frequência os demais não respeitam esse “acordo”.

O acordo que os demais, sim, cumprem quase sem exceções, é o de nos tratar tal como nós nos tratamos a nós mesmos, mostrando-nos como num espelho as atitudes que temos em relação a nós e as crenças que adotamos a respeito do nosso próprio valor.

“A vida o trata tal como você se trata a você mesmo.”

Louise L. Hay

Para os que compreendemos esta ideia, se torna prioridade aprender a nos apreciar de maneira positiva em toda situação, ou seja, incrementar nosso nível de autoestima. A autocrítica sem amor não resolve problemas, só os atrai. Se aprendemos a nos sentir a vontade tal como somos, se temos uma relação saudável com nós mesmos, se somos capazes de nos ver amorosamente em qualquer circunstância, se temos um alto nível de autoestima, quer dizer, se nos queremos sem condições, então nos sentiremos naturalmente merecedores de tudo de bom, de qualquer coisa que desejamos. E exercendo nossa milagrosa faculdade de criar, faremos que nossa vida e nossas relações reflitam a plenitude, o bem-estar e o amor que desenvolvemos primeiro no nosso mundo interior.

Compromisso com o momento presente

Do mesmo modo que de todas as nossas relações é prioritário que curemos a que temos com nós mesmos, de todas as nossas atividades há uma que requer toda nossa atenção: experimentar conscientemente o momento presente.

Alguns estão dispostos a qualquer coisa, menos a viver aqui e agora (John Lennon)

A origem de qualquer dor emocional sempre parece ser o mesmo: a realidade não se ajusta a nossas expectativas e isso nos produz certo grau de frustração. Consciente ou inconscientemente atribuímos aos nossos desejos uma importância tão exagerada que sentimos que não podemos ser felizes se não se cumprem. Mas isto é só um engano do nosso ego, do nosso falso eu. Salvo em casos extremos, a felicidade é um estado interno que não depende de nada exterior e a única condição prévia para alcançá-la é experimentar plenamente, conscientemente, o momento presente.

O seguinte vídeo mostra o que acontece numa certa estação de metrô na que uma de suas escadas tem um degrau cuja altura é um pouco superior aos demais (os textos em inglês no começo do vídeo são só uma simples introdução).

“Escadas do metrô de Nova York” de Dean Peterson.

Qualquer um poderia dizer (e teria razão, claro!) que as pessoas tropeçam porque a escada tem uma pequena falha. Mas o vídeo também mostra outra verdade mais profunda, muito mais importante, que é evidente, mas que ignoramos facilmente: que as pessoas que sobem essa escada o fazem de maneira mecânica, sem prestar atenção ao que estão fazendo, enquanto vão pensando em outras coisas, muitas vezes preocupadas pelo que passou ou pelo que poderia chegar a acontecer.

Atuar de maneira inconsciente ou realizar de maneira mecânica qualquer atividade, ainda que se trate de uma tarefa rotineira, nos enfraquece, nos tira o entusiasmo, subtrai nossa energia. E lhe permite ao nosso ego nos distrair da realidade do momento presente com seu constante fluxo de pensamentos desgastantes.

Nosso compromisso é, então, duplo: amar-nos e acordar…

Axel Piskulic

Tradução de Ana Lúcia de Melo

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